sábado, 25 de junho de 2011

DICAS DE PASSEIO: Patos-PB

 












A História de Nossa Senhora da Guia, como nossa padroeira, constitui o ponto de partida para o surgimento do próprio município. Os casais: Paulo Mendes de Figueiredo-Maria Teixeira de Melo e João Gomes de Melo-Mariana Dias Antunes, sonhavam com a fundação de uma povoação e imaginavam que ela deveria surgir em torno de uma ermida, sob a invocação de Nossa Senhora da Guia. Em 21 de março de 1766, os dois casais doaram, para patrimônio de sua protetora e ereção de sua capela, 120 mil réis de terras, sendo metade no sítio Patos e a outra parte na fazenda Pedra Branca. Em 28 de novembro de 1768, os casais: Simão Gomes de Mello-Josefa Faustino Barreto, Domingos Dias Antunes-Anna Thereza de Figueiredo, além de João e Felippe Gomes de Melo, Ana Maria e Rosa Maria, herdeiros do Alferes João Gomes de Mello e do Capitão Paulo Mendes de Figueiredo, ratificaram a doação da área, na presença de um Tabelião de Piancó, a quem a localidade se reportava naquela época, transferindo para o papel o desejo de nossos fundadores.


A construção da capela teve início no ano de 1772, época em que se incorporava a freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Pombal, instalada no dia 04 de maio do mesmo ano, cuja criação ocorreu através de Carta Régia, datada de 26 de julho de 1766. O fato mais inusitado com relação à igrejinha é que a imagem da Santa, proveniente de Portugal, chegou antes do término da obra, motivo pelo qual foi improvisado um altar embaixo de um pé de pereiro, objetivando iniciar a veneração a nossa padroeira. Quando se fez necessária a retirada da planta a localidade se dividiu em duas facções e por pouco não aconteceu uma guerra civil. Parte da população, solidária com a evolução dos tempos, torcia pela derrubada da árvore, enquanto a outra, mais conservadora, queria preservar a memória religiosa e não aceitava tal proposição. Com a conclusão da capela a convergência do povoamento era inevitável, afluindo para o seu aconchego, pessoas dos diversos níveis sociais: camponeses, vaqueiros, pedreiros e homens de destaque que formavam os mentores da administração local. As habitações começavam a surgir nos arredores e Patos, aos poucos, vislumbrava um horizonte futuro, sob o manto sagrado de sua eterna protetora. O aumento considerável no número de fiéis motivou o surgimento de um movimento em defesa de sua elevação à paróquia com a criação da freguesia de Nossa Senhora da Guia, o que veio a acontecer no dia 06 de outubro de 1788, através da Provisão Régia de número 14, com o seu desmembramento da Gloriosa Senhora Santana do Seridó (Caicó) e incorporação à Diocese de Olinda coordenada pelo Bispo Dom Frei Tomaz da Encarnação Costa e Lima, tendo como primeiro vigário o Padre José Inácio da Cunha Souto Maior, o qual permaneceria na função até 1796, oportunidade em que seria substituído pelo Padre José Ribeiro Campos. Ainda em 1788, foi criado o Distrito de Patos, subordinado ao município de Pombal, época em que as administrações: civil e religiosa, possuíam algumas semelhanças. A autonomia no campo eclesiástico também representava uma relativa independência.

 
Em 1808, assume o cargo de Vigário de Patos o Padre Antônio da Silva Costa, o qual permaneceria por 10 anos, até a chegada do Padre Jerônimo Rangel em 1818. A mesma função chegou às mãos do sacerdote Antônio Dantas Correia de Góis, em 1825, com término em 1853, quando entregou o cargo ao Padre Manoel Cordeiro da Cruz.

O primeiro sacerdote filho de Patos foi o Padre Joaquim Alves Machado, também chamado pelos seus seguidores de Padim Pade, que em 30 de novembro de 1867 concluiu o Seminário em Fortaleza e retornou a sua terra natal para desempenhar a função de cooperador na paróquia, chegando a interinidade em 30 de setembro de 1871, momento em que o titular Manuel Cordeiro da Cruz deixou, temporariamente, o exercício de suas funções para tomar assento na Assembléia Legislativa Provincial, no dia 07 de novembro. No período de 1878 a 1918, desempenhou a missão de Vigário Titular de Nossa Senhora da Guia. Vale salientar que o Padre Machado também militou na política desde a monarquia e em 1886 chegou a ocupar uma cadeira de deputado estadual. Sua grande preocupação no âmbito religioso girava em torno da ampliação do espaço físico para abrigar os fiéis. A antiga matriz foi reformada, época em que ganhou um patamar em alvenaria e madeira, bem decorado, na parte externa, local que passou a ser utilizado para as celebrações, sendo que as mulheres assistiam as missas no interior da igreja e os homens se aglomeravam no lado de fora, área onde existe atualmente a Praça Edivaldo Motta. A medida não foi suficiente para solucionar o problema, o que acarretou uma consulta popular sobre a aceitabilidade da construção de uma Igreja mais espaçosa, cuja Pedra Fundamental foi assentada em 23 de outubro de 1893, na qual foram gastos 30 contos de réis.

Em 1898, precisamente no dia 15 de dezembro, o vigário Joaquim Alves Machado e o procurador Capitão Manoel Gomes dos Santos, mandaram lançar no livro de tombo cópia da escritura de doação e ratificação do patrimônio de Nossa Senhora da Guia, da Vila dos Patos. Já no ano de 1900, em primeiro de janeiro, foi implantado sobre pedras, a oeste da Vila, um cruzeiro de madeira, o qual serviu de marco da entrada do novo século. A falta de preservação acabou por extinguí-lo, depois do local ter sido ocupado por residências de forma desordenada, ponto que ficaria conhecido por Beco do Cruzeiro.



Em 1910, a nova Matriz de Nossa Senhora da Guia, inaugurada há 04 anos e situada na rua Alegre (mais tarde Rua Grande e Solon de Lucena) recebe a doação de um terreno existente em sua parte frontal, fruto da iniciativa dos seus proprietários, Trajano José da Costa e esposa Maria Augusta de Carvalho, pais do saudoso vereador Noé Trajano, cuja escritura fora assinada em 30 de setembro e mais tarde seria de fundamental importância para a ampliação do novo templo. O Padre Machado, que havia coordenado a transferência inicial da matriz, também foi responsável pela construção do Cemitério dos Variólicos, época em que a população foi acometida por um surto de varíola com o registro de inúmeros óbitos.


O funcionamento da nova paróquia deu grande impulso na expressão religiosa de Patos. O primeiro Bispo da Diocese de Cajazeiras, criada em 1914, Dom Moisés Coelho, em sua primeira visita pastoral à Capital Sertaneja, parte integrante de sua jurisdição, no período de 03 a 09 de outubro de 1917, evidenciou sua satisfação pelo que presenciou na convergência de inúmeras pessoas de todas as classes sociais às atividades desenvolvidas na igreja central. O segundo templo não chegou a ser forrado, não possuiu bancada e o piso era de cimento. Não tinha nenhum traço arquitetônico, contando apenas com três torres pequenas que ornamentavam o seu frontístico. Os habitantes que queriam ter melhores acomodações mandavam confeccionar uma cadeira onde suas iniciais eram gravadas. Com o enorme crescimento de Patos, o problema do passado voltava a ser repetido e mais uma vez a igreja se tornava pequena para abrigar os fiéis.

 
Em primeiro de janeiro de 1918 a Paróquia de Nossa Senhora da Guia passa a ter novo titular na figura do padre José Neves de Sá em substituição ao Cônego Joaquim Alves Machado que durante a programação é homenageado pelos cinqüenta anos de trabalho pastoral na cidade de Patos.

Voltando à religiosidade da época, se antiga capela funcionou por mais de 100 anos a mais nova não chegaria aos 40. Foi o Padre Fernando Gomes dos Santos, Vigário de Nossa Senhora da Guia a partir de 1937, o idealizador da terceira igreja, cuja idéia provocou uma certa resistência, levando-se em consideração que a estrutura de então deveria ser demolida. O primeiro passo foi o convencimento da população, através de carta aberta, artigos publicados em jornais, reuniões e debates com os segmentos da sociedade. Posteriormente, o referido sacerdote constituiu grupos de divulgação e arrecadação de donativos. O Lançamento da Pedra Fundamental, que teve a aprovação do Bispo de Cajazeiras Dom João da Mata de Andrade e Amaral, ocorreu em 2 de junho de 1940, com a construção sendo iniciada no mês seguinte. Em 30 de outubro do mesmo ano, registrou-se um lamentável acidente nas obras de construção da Igreja Matriz, por volta das 09:00 horas da manhã, oportunidade em que ruiu uma tesoura de sustentação do teto, provocando a morte do mestre de obras Pedro Bernardo de Lucena, mais conhecido por Pedro Benedito, além de ferimentos em outros operários.
 
O trabalho foi desenvolvido em ritmo tão acelerado que em 14 de setembro de 1942 já era colocada a custódia da torre, oferta do senhor Custódio José Pessoa, que também doou a importância de seis contos de réis destinados a outras melhorias. Vale salientar que antes da conclusão do templo, momento em que faltou o ferro para terminar a obra, Padre Fernando foi até a fazenda do seu pai e retirou o arame grosso que a cercava para resolver parte do problema. Em 30 de novembro do mesmo ano, a nova matriz recebeu o relógio de mostrador redondo fabricado nas oficinas Salesianas de Juazeiro e doado pelos nove sócios do Garimpo de São Vicente, no município de Piancó.

Aos 04 de dezembro de 1949, aconteceu a primeira celebração de ordenação sacerdotal na Paróquia de Nossa Senhora da Guia, época em que o seu vigário era o Padre Zacarias Rolim de Moura. Os diáconos Luís Laíres da Nóbrega, Luís Gualberto de Andrade e Milton Arruda de Alencar, eram oficializados sacerdotes, pelo então Bispo de Cajazeiras Dom Luís Amaral Mousinho.

A partir de 1949 e até o ano de 1950 foram realizados os trabalhos de pintura da parte interna da Catedral, onde estão verdadeiras obras de arte, dentre as quais a via sacra, constituindo uma das maiores belezas culturais da região Nordeste. O artista convidado para realizar o trabalho residia na Capital Pernambucana e chamava-se José Lima. O mesmo teve formação artística na Itália, foi irmão franciscano, seminarista, chegando, inclusive, a fazer curso teológico. O referido pintor, que contava com a ajuda da esposa, trabalhava mais à noite e durante a madrugada. Outra curiosidade é que as pinturas do teto foram feitas no próprio local, sendo que o apoio era fixado em armações de madeira, em alguns momentos com o corpo deitado. José Lima que sofria de surdez, após concluir os trabalhos voltou para o Recife, posteriormente seguiu com destino a São Paulo e nunca mais foi localizado, acreditando-se que o mesmo tenha falecido. Ele chegou a ser procurado pelo Padre Levi Rodrigues, que objetivava pintar a Igreja de Santo Antônio, sem qualquer roteiro conseguido. Fala-se ainda de uma pequena participação de Zezinho Pintor, da cidade de Patos, nos quadros mais próximos ao solo, oportunidade em que o patoense de saudosa memória teria aprimorado parte dos seus conhecimentos no campo da arte.



Ainda em primeiro de abril de 1950, foi aberto o Seminário Mínimo São José, funcionando nas dependências do Ginásio Diocesano de Patos, tendo na pessoa do Padre Joaquim de Assis Ferreira o seu primeiro reitor.


No dia 03 de maio um grupo de Patos, formado pelo Padre Manuel Vieira, Áureo Guedes, Maria Esther Sátyro Fernandes, Euzari Aires Moura, Adjalma Medeiros e Ieda Wanderley Sátyro, embarcou em Recife, no Navio Duque de Caxias, pertencente à Marinha do Brasil, rumo à Itália, com o objetivo de participar das comemorações do Ano Santo, em Roma, presididas pelo Papa Pio XII. O regresso aconteceu no dia 26 de junho.

Entre os grandes eventos realizados na Catedral de Nossa Senhora da Guia podemos destacar a primeira visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, no dia 22 de novembro do ano de 1953. A preparação foi confiada ao padre Francisco Sitônio, que assumiu a condição de Vigário da Catedral, em virtude de seu titular, Zacarias Rolim, ter sido sagrado Bispo. Naquela ocasião o Padre Joaquim de Assis Ferreira já dava provas do grande talento cultural que passaria a referenciá-lo, momento em que fazia a oratória de saudação.

Texto e arquivo de imagem: www.patosemrevista.com


Damião Lucena









Na década de vinte, no século XX, chegava a Patos um casal campinense: Absalão Emerenciano e sua esposa Domila Emerenciano de Araújo, trazendo consigo uma criança, filha de retirantes e conhecida apenas por Francisca. A menina lhes fora dada, em uma das maiores secas da história, como única forma encontrada por seus pais para livrá-la da fome que assolava as famílias nômades, as quais viviam em um verdadeiro estado de miséria.

Absalão teria na Capital do Sertão da Paraíba uma importante missão a cumprir: executar o funcionamento do motor que fornecia energia para toda a cidade. Sua esposa, por sinal uma mulher de beleza invejável, trazia consigo um gênio forte e desumano. Pacato como sempre foi, ele aceitava os caprichos reprováveis da companheira, como quem pratica um grande sacrifício para manter um comportamento exemplar em meio à sociedade. A maior vítima da mulher malvada passou a ser justamente a pequenina que era verdadeiramente uma criada, responsável pela execução das tarefas de casa. Vivia em uma espécie de prisão e passava por constantes sessões de tortura, valendo citar ainda que além da pancadaria, promovida constantemente contra a indefesa, Domila chegava até mesmo a sentar sobre o seu corpo para entoar músicas, acompanhada de seu violão. Se por acaso não concordava, o homem do motor da luz aceitava as referidas práticas e, aos poucos, a tragédia passava a ser apenas uma questão de tempo.

Em 10 de outubro, de 1923, por volta das 18:00 horas, cumprindo uma trajetória diária, Domila saiu de casa e seguiu ao encontro do esposo, com quem palestrou até às 22:00 horas, momento em que o equipamento fora desligado e os dois regressaram para dormir. Ao deixar a residência tinha sempre uma frase repetida endereçada à criança, no sentido de que após lavar a louça e organizar outros espaços da casa, fosse dormir.

Atraída pela algazarra das meninas de sua idade residentes na então rua da Pedra, a pobre inocente, após cumprir a tarefa, abre a janela e fica a contemplar as brincadeiras. O sono bate e, displicentemente, dirige-se para a rede, esquecendo-se de fechá-la, o que seria um álibi de Domila, para espancá-la de forma brutal, utilizando-se da trave de madeira usada como taramela, culminando com o massacre.

Com o crime concretizado o casal passou a viver um momento terrível, que, por incrível que pareça, criava-lhe maior preocupação não por conta do assassinato, mas por temer a reação pública. Naquele momento, em plena madrugada, já era traçado o plano de desova e, conseqüentemente, a distorção da verdade. Absalão buscava um meio de livrar-se do corpo da menina, contratando uma viagem no caminhão de Zé Vicente, cujo motorista era conhecido como Hindú e morava na mesma artéria. Francisca era levada em um saco de estopa e jogada no sítio Trapiá, em um ponto ermo, sem que o condutor do carro fosse informado ao certo que tipo de missão estaria sendo desenvolvida, já que anteriormente soubera apenas que o casal seguia com destino à residência de amigos para entregar uma encomenda, e, lá chegando, lhe orientara a aguardar o retorno em uma estrada vicinal. No dia seguinte, enquanto Domila espalhava que Francisca havia desaparecido, Absalão encenava uma procura frustrada.

 
Em 13 de outubro, ou seja, dois dias após o fato, o corpo franzino era localizado pelo rurícola Inácio Lazário, que atraído por urubus e pensando que alguma criação teria perdido a vida, se deparou com os restos mortais da menina Francisca. Tratou de registrar o fato junto ao delegado Antônio Fragoso, que substituía o titular Vicente Jansen, o qual determinou a transferência do cadáver até a delegacia onde foi feito o reconhecimento por membros da comunidade e logo após o enterro. A essas alturas, os boatos na cidade já não deixavam nenhuma dúvida, em meio à população, quanto a autoria do assassinato de Francisca, que teve entre outros ferimentos o crânio fraturado e um dos braços quebrados. Protegido por grandes nomes da política o casal não chegou a ser preso, mas não suportando a revolta popular teve que ser transferido para a cidade de Campina Grande.

No local onde encontrou o corpo da criança, o agricultor Inácio Lazário, fincou uma cruz de madeira simples que passou a servir de orientação. As pessoas que por ali passavam, mantendo uma tradição religiosa, rezavam algumas orações em sufrágio da alma da inocente.


 
Um certo dia, munido pela fé cristã, o agricultor José Justino do Nascimento, trafegando na área e meditando sobre a grande seca que abalava a região, provocando a morte de animais e sofrimentos nos humanos, resolveu rezar um pouco e endereçar um pedido a Deus por intermédio da pequena mártir. Bem próximo do local resolveu cavar uma cacimba e encontrou água suficiente para salvar seu rebanho. Como pagamento da promessa construiu uma capela, a qual foi inaugurada em 25 de abril de 1929. Vale salientar que o líquido precioso da mesma fonte foi suficiente para tocar a referida obra.

Com o surgimento da Capela começava também a romaria, que mais tarde seria o ponto de maior convergência de peregrinos e fiéis do Estado da Paraíba. Entre os possíveis milagres atribuídos à “Menina Francisca” o mais surpreendente foi narrado por um americano que veio a Patos trazendo uma réplica dos seus pés, na época em que sofria de uma grave doença. Dona Odília, moradora do Sítio Trapiá, que zelou a capela por mais de 50 anos, sempre contava o fato com muita emoção. Segundo ela, “Este cidadão dos Estados Unidos, havia sonhado com a menina, informando que a sua cura estaria nesse ponto de romaria, localizado em Patos e para tanto bastaria que através da fé prometesse que levaria o ex-voto até o local. Pacto firmado, graça alcançada e promessa paga”.

Somente onze anos depois do crime, o primeiro julgamento do casal veio a se concretizar, graças à determinação do Juiz Luiz Beltrão, que desengavetou o processo e mandou que os dois fossem presos em Campina Grande. No primeiro Júri que não condenou o casal, ocorrido em 15 de junho de 1934, funcionou na defesa o Advogado José Tavares, na acusação o promotor Alfredo Lustosa Cabral e foram jurados: Francisco Olídio Wanderley, Antônio Chaves, Sabino José Viana, Virgílio Barbosa e Oscar Medeiros Torres. Em 24 de outubro o casal voltou ao banco dos réus, na sessão presidida pelo Juiz Manoel Maia de Vasconcelos. O promotor foi Antônio Dantas de Almeida e na defesa funcionaram os advogados José Tavares e Plínio Lemos. Os jurados foram: Laurênio Lauro de Medeiros Queiroz, José Caetano dos Santos, Anésio Ferreira Leão, João Olintho de Mello e Silva e Alcebíades Alves Parente, os quais decidiram pela absolvição, também por unanimidade. O último júri aconteceu em 05 de junho de 1935, presidido pelo Juiz Edgar Homem Siqueira, tendo na promotoria Antônio Dantas de Almeida e na defesa os advogados Plínio Lemos e Francisco Wilson da Nóbrega. Os jurados foram: Bossuet Wanderley da Nóbrega, Pedro da Veiga Torres, Raimundo Pires Braga, João Norberto da Nóbrega e José Permínio Wanderley, prevalecendo a mesma decisão anterior. Mesmo sendo inocentado pela justiça, o casal jamais foi perdoado pela população.

 
Décadas depois de inaugurada a capela, a estrutura já não chegava a comportar os ex-votos, provindos de todos os pontos do Brasil, como testemunhos dos mais diversos milagres ou graças alcançadas. Começava então uma batalha pela concretização de um projeto amplo, capaz de abrigar não apenas a religiosidade, como também o aspecto turístico, criando divisas econômicas para a Capital do Sertão. O então deputado Federal Edivaldo Motta comprou a briga com o Governo do Estado para a edificação do parque, o que só veio a ser concretizado com o ingresso de Ronaldo da Cunha Lima, no Palácio da Redenção. Em 24 de outubro de 1993 a obra foi entregue à cidade, com duas ausências por demais lamentadas: Dona Odília, que dedicou sua vida a antiga construção e o parlamentar que mais trabalhou pela sua consolidação. Os dois já haviam falecido.

O então prefeito Antônio Ivânio Ramalho de Lacerda, responsável pelas despesas de elaboração do projeto e desapropriação do terreno que
serviria de estacionamento, propôs que a administração do parque ficasse a cargo da Diocese, o que não foi aceito pela Igreja, sob a alegação de que a menina não era beatificada. Neste momento registrou-se duas contradições: o comportamento de religiosos da mesma organização, em outros pontos idênticos, usando como exemplo o Padre Cícero Romão Batista do Juazeiro-CE, que como Francisca e os demais candidatos a santo do Brasil não haviam conseguido tal estágio, junto ao Vaticano e a atração de membros católicos da própria cidade de Patos, a partir da construção da Igreja de Santa Cruz, ao lado do Parque, como fruto da iniciativa do padre Jair Jacob Tomasella. Mais tarde, porém, prevaleceu o bom senso, e antes mesmo da conclusão do templo católico, o aceite da Diocese para tocar adiante as atividades do local foi concretizado.

Nos dias atuais, a Igreja já leva a efeito algumas celebrações dentro do complexo, o que no passado, somente o Padre Noronha, de saudosa memória, se arriscava a fazer. Dizia ele: “Celebro em qualquer canto porque Deus está presente em todo lugar”.

O Parque Turístico Religioso Cruz da Menina é composto de um anfi-teatro, cobertura em forma de pirâmide que protege a parte central onde estão a capela e duas salas de ex-votos, um restaurante, dez lojas de souvenir, espaço para a administração e posto policial. O ambiente é bem arborizado, agradável e atraente, chegando a ser considerado um dos pontos de maior visitação do Nordeste.

Presume-se que mais de 100 mil pessoas passem pelo parque anualmente e com a realização de algumas festas tradicionais, a exemplo de Pentecostes, o fluxo vem aumentando consideravelmente. O local é também parada obrigatória para os romeiros de vários Estados que se deslocam para o Juazeiro do Padre Cícero, principalmente no final de outubro e início de novembro.

Além dos folhetos comercializados no parque, os quais descrevem a história completa desde a sua origem, em 1993 a Lucena Publicidades produziu um filme em VHS, com a participação de 28 atores e mais de 100 figurantes, com duração de uma hora e onze minutos, sendo que todos os cenários e artistas são originários de Patos. Também foi editada uma revista, totalmente ilustrada, com todos os detalhes do episódio, além da disposição para um possível processo de beatificação junto ao Vaticano.

O Parque também se destaca por gerar mão-de-obra e renda. Além dos artesãos e empresários que lá atuam, a população pobre da Vila Mariana, uma comunidade situada ao lado, encontra ocupação e lucratividade na venda de velas e funcionamento de alguns estabelecimentos que comercializam lanches e bebidas.



Texto e arquivo de imagem: www.patosemrevista.com


Damião Lucena

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