quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ex-ditador do Egito nega participação em morte de manifestantes

O ditador deposto do Egito Hosni Mubarak e seus filhos Alaa e Gamal, acusados de envolvimento na morte de manifestantes e de corrupção, se declararam inocentes nesta quarta-feira diante do Tribunal Penal do Cairo.

"Nego completamente as acusações", declarou Mubarak, deitado em uma maca dentro da "gaiola" reservada aos réus no lotado tribunal.

Em seguida, seus filhos tomaram a palavra para rejeitar as acusações. Eles seguram cópias do livro sagrada do islamismo, o Corão.

Reuters/Egypt TV



O ex-ditador Hosni Mubarak chega de maca à Academia de Polícia do Cairo,onde será julgado nesta quarta

Mubarak, seus filhos, o empresário Hussein Salem, o ex-ministro do Interior Habib al Adli e seis de seus assessores enfrentam um julgamento inédito no Egito por seus crimes de corrupção no governo e por ordenar que as forças de segurança matassem os manifestantes oposicionistas que participaram da revolta de 18 dias que o depôs, em fevereiro passado.


Um balanço oficial do governo diz que 850 morreram na revolta. Os manifestantes alegam que o número foi muito maior.

Os protestos fizeram parte da onda de revoltas que já derrubara o ditador da Tunísia e que se espalhou para Síria, Líbia, Jordânia, Arábia Saudita, Bahrein, entre outros.

O ex-ditador chegou de helicóptero para o local do julgamento, sob um forte esquema de segurança e em meio a intensos confrontos entre seus partidários e opositores.

DOENTE

Imagens da televisão estatal egípcia mostraram Mubarak sendo levado de maca para o local onde ocorrerá o julgamento. Ele acompanha os testemunhos deitado na maca, vestido de branco, assim como os outros réus.

Mubarak, 83, estava internado em um hospital no resort do mar Vermelho de Sharm el-Sheikh desde abril, quando sofreu problemas cardíacos no seu primeiro interrogatório.

Desde então, houve todo tipo de declaração sobre seu estado de saúde. Seu advogado, Farid El Deeb, disse que ele tem câncer, que sofreu um derrame e que chegou a ficar em coma. As informações, contudo, não são confirmadas oficialmente.

O ministro da Saúde egípcio, Amr Helmy, afirmou na segunda-feira (1º) que o estado de saúde de Mubarak é estável, por isso não existiriam impedimentos para sua transferência ao Cairo para comparecer ao tribunal.

Helmy assinalou ainda que Mubarak seria acompanhado à capital egípcia por uma equipe de médicos e especialistas.

Muitos egípcios consideram a doença dele uma desculpa para que o Exército evite a humilhação pública do antigo comandante.

INÉDITO

Apesar dos egípcios celebrarem a possibilidade de retribuição contra um líder autoritário, eles estão se questionando se o julgamento vai, realmente, romper com as injustiças do passado.

Alguns temem que a junta militar que governa o Egito vai usar o julgamento como uma prova de que as reformas democráticas foram alcançadas, ainda que os ativistas argumentem que ainda são necessárias reformas mais profundas.

"Estou um pouco preocupada que, se Mubarak for julgado e condenado, as pessoas vão tomar isso como o fim da revolução. Eles vão dizer que a revolução alcançou seus objetivos. O que não é o caso", disse Tareq Shalaby, 27, consultor de mídia social que estava entre as milhares de pessoas protestando na praça Tahir.

O julgamento do presidente deposto é um momento sem precedentes no mundo árabe. É a primeira vez que um líder do Oriente Médio moderno é levado a julgamento pelo seu próprio povo.

O evento mais próximo a este foi o julgamento do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, mas sua captura deu-se pelo Exército americano em 2003 e o tribunal especial para o julgamento de Saddam foi criado com ampla consulta dos americanos e especialistas estrangeiros.

O presidente tunisiano deposto, El Abidine Ben Ali, foi acusado e condenado diversas vezes desde sua deposição, mas os julgamentos foram todos à revelia, pois ele está no exílio na Arábia Saudita.

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